Nos tempos livres ela escrevia.No intervalo das aulas,antes de
dormir…Escrevia o que não tinha coragem de dizer,queria que o papel
olhasse pra ela absorvesse e transformasse em palavras tudo que ela
sentia.Quase sempre era desânimo,medo de tomar decisões,ou
pior,incertezas e infrequências.
Não gostava de dividir,não procurava filmes cômicos mas sorria
quando via alguém sorrindo mesmo que por dentro.Gostava da alegria
alheia,sentia inveja,não negava e costumava ser sincera embora
eventualmente mentisse dizendo que estava bem.
Não se enturmava,preferia ficar calada.Gostava de desenhar olhos na
carteira da escola,gostava de olhares e algumas pessoas se sentiam
incomodadas por sua mania de olhar fixamente nos olhos enquanto prestava
atenção ao que falavam,não desfocava.
A sacada era fria,o vento secava seus olhos fundos embora ela lutasse
pra umidificá-los com lágrimas.Não saia uma gota,talvez tivesse
secado.O arrepio passava pelo seu corpo e ela teve a impressão que seu
cabelo ficara meio punk.Se lembrou daquele menino misterioso do ônibus e
sentiu vontade de conhecê-lo.
Sibilou um trecho que conhecia bem,trecho daquela música do seu
cantor preferido: Renato,ele sempre entendia sem querer explicar,toda
confusão que passava em sua mente.
”Eu sou um pássaro,me trancam na gaiola e esperam que eu cante como antes.
Mas um dia eu vou conseguir voar pelo caminho mais bonito.”
Foi então que ela voou.
— Marília Cadima
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