domingo, 4 de novembro de 2012

Dali daquela calçada imunda cheirando a fracasso conseguiu ver aquela forma saindo de seu velho Corsa preto.Ela não podia estar em situação mais deplorável,não estava em si,a bebida nunca lhe dizia quando parar e ela não estava em condições de traçar limites para nada.
Todos os detalhes que ela gostava de reparar pareciam vultos e sua cabeça girava,o que a fez lembrar daquela montanha russa que andara com sua mãe.Ah mãe,que saudade!
Ele se aproximou,acho que viu alguma semelhança dela naquela face indulgente que estava parada a poucos metros dali,ele tentava mirá-la,se ajoelhou e segurou seu rosto entre as mãos,rosto esse que se via pálido marcado por olheiras tão profundas que pareciam precipícios.

-O que fizeram da pequena que eu conheci?
Ficara em dúvida se aquele pequena era para ela,fazia tempo que não ouvia essa palavra de sua boca.Falou em resposta:
-É,a vida tem formas engraçadas de ensinar as coisas.O mundo faz com que superemos nossas dores passadas com as dores fresquinhas que insistem em bater a porta,e eu abri.
Ele não sabia o que dizer,sabia o que aquelas palavras significavam…Sabia que o mundo nunca fora o real lugar dela e não havia argumentos que pudessem fazê-lo pensar diferente.
-Eu sinto muito.
Falou desviando o olhar para o chão.
E ela com um riso irônico pôde responder com verdade pela primeira vez:
- Já eu…(balançou a cabeça com tom de descrença)eu não sinto mais nada.
— Marília Cadima

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