Dali daquela calçada
imunda cheirando a fracasso conseguiu ver aquela forma saindo de seu
velho Corsa preto.Ela não podia estar em situação mais deplorável,não
estava em si,a bebida nunca lhe dizia quando parar e ela não estava em
condições de traçar limites para nada.
Todos os detalhes que ela gostava de reparar pareciam vultos e sua
cabeça girava,o que a fez lembrar daquela montanha russa que andara com
sua mãe.Ah mãe,que saudade!
Ele se aproximou,acho que viu alguma semelhança dela naquela face
indulgente que estava parada a poucos metros dali,ele tentava mirá-la,se
ajoelhou e segurou seu rosto entre as mãos,rosto esse que se via pálido
marcado por olheiras tão profundas que pareciam precipícios.
-O que fizeram da pequena que eu conheci?
Ficara em dúvida se aquele pequena era para ela,fazia tempo que não ouvia essa palavra de sua boca.Falou em resposta:
-É,a vida tem formas engraçadas de ensinar as coisas.O mundo faz
com que superemos nossas dores passadas com as dores fresquinhas que
insistem em bater a porta,e eu abri.
Ele não sabia o que dizer,sabia o que aquelas palavras
significavam…Sabia que o mundo nunca fora o real lugar dela e não havia
argumentos que pudessem fazê-lo pensar diferente.
-Eu sinto muito.
Falou desviando o olhar para o chão.
E ela com um riso irônico pôde responder com verdade pela primeira vez:
- Já eu…(balançou a cabeça com tom de descrença)eu não sinto mais nada.
— Marília Cadima
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