domingo, 4 de novembro de 2012

8 meses e eu ainda conto as batidas do coração e me pergunto até quando.Até quando o mundo vai fingir que tá tudo bem?Até quando eu vou me vestir de coragem e mentir pra mim mesma sobre conseguir sem você?Um prédio sem base não para em pé e eu estou me equilibrando em alguns tijolos que você deixou.
Eu gosto de falar contigo mesmo sem ouvir a resposta de volta,me sinto bem por uns instantes,mas as vezes o desespero fala mais alto.
As pessoas me dizem pra esquecer,pra seguir em frente mas ninguém me pergunta se é isso que eu quero.Eu não quero esquecer,pelo contrário,esse é o meu maior medo.
Tenho medo de esquecer da sua risada e daquela cara que você fazia quando eu chamava sua atenção.Tenho medo de não me lembrar dos seus olhos cheios de lágrimas por conta dos desabores da vida,medo de ver você se desfazer diante dos meus olhos como mera coisa mundana…mas sobre tudo,tenho medo de me perder tentando te encontrar.
Sou como o oceano.Minhas extensões são feitas de lágrimas,meus humores são cheias que lavam a beira da praia,devastadoras e impiedosas com tudo que se interponha no caminho.
Sou como omar morto.Dentro de mim já não há tanta vida,até existem espécies bonitas aqui mas estão profundas demais para que eu possa enchergar suas belezas.
Apesar de minhas miudezas parecerem me enfraquecer a cada dia,me sinto mais forte pois mesmo no oceano mais oculto a lua reflete sua luz,dádiva pessoal que representa mais um dia que a noite insiste em findar.
Ainda me lembro de quando tudo aconteceu,foi ontem mesmo.As cores eram cheirosas e o riso vinha fácil,difícil era controlá-lo.Eu confiava em todo mundo e a malícia nunca tinha me atormentado.Acreditava que eu seria cantora de rock,bailarina,atriz de Hollywood.Ainda me lembro de comemorar aos pulos quando minha mãe fazia aquela mesma comida simples de sempre…As coisas mudaram tão rapidamente que as vezes tenho dúvida de suas veracidades.Hoje o riso me custa tanto esforço que quase caio no pranto de pensar.As pessoas estão frias e as cores estão mortas,é como se eu tivesse dispertado pro verdadeiro mundo e lutasse tristemente para desfazer a descoberta pois vi não era tão bonito.Ontem eu era criança hoje me tornei mulher.
Quebrei promessas e fiz tudo errado outra vez.Me feri de todas as formas possíveis e me sinto responsável por tudo isso,saí da minha trincheira e corri o risco de ser atingida pela bomba dos inimigos que até então desconhecia.
Tentando proteger todo mundo,acabei dando um tiro no próprio pé e acho que lá se escondia meu orgulho que agora está gravemente ferido.
A soma de guerras e o acúmulo de dores me fazem cada vez mais fria.Hoje só carrego culpas e remorsos,deixo a esperança pras inocentes crianças e a alegria cansada para os velhos.Não se preocupe,estou bem. — Marília Cadima
Dali daquela calçada imunda cheirando a fracasso conseguiu ver aquela forma saindo de seu velho Corsa preto.Ela não podia estar em situação mais deplorável,não estava em si,a bebida nunca lhe dizia quando parar e ela não estava em condições de traçar limites para nada.
Todos os detalhes que ela gostava de reparar pareciam vultos e sua cabeça girava,o que a fez lembrar daquela montanha russa que andara com sua mãe.Ah mãe,que saudade!
Ele se aproximou,acho que viu alguma semelhança dela naquela face indulgente que estava parada a poucos metros dali,ele tentava mirá-la,se ajoelhou e segurou seu rosto entre as mãos,rosto esse que se via pálido marcado por olheiras tão profundas que pareciam precipícios.

-O que fizeram da pequena que eu conheci?
Ficara em dúvida se aquele pequena era para ela,fazia tempo que não ouvia essa palavra de sua boca.Falou em resposta:
-É,a vida tem formas engraçadas de ensinar as coisas.O mundo faz com que superemos nossas dores passadas com as dores fresquinhas que insistem em bater a porta,e eu abri.
Ele não sabia o que dizer,sabia o que aquelas palavras significavam…Sabia que o mundo nunca fora o real lugar dela e não havia argumentos que pudessem fazê-lo pensar diferente.
-Eu sinto muito.
Falou desviando o olhar para o chão.
E ela com um riso irônico pôde responder com verdade pela primeira vez:
- Já eu…(balançou a cabeça com tom de descrença)eu não sinto mais nada.
— Marília Cadima
Sabe aquela mania que a vida tem de testar seus limites?Tem sempre uma pendência,um assunto mal resolvido que te tira boas noites de sono.Incertezas corroem o peito na mesma proporção em que roemos as unhas.Sossega menina!Não há nada que se possa fazer,esta é sua sina.Mantenha sua covardia e seu orgulho e jogue essas idéias mirabolantes no fundo de um baú,até que o pó tampe tudo. — Marília Cadima
Sabe quando você só quer chorar?Quando cada parte do seu corpo clama pelo espaço sagrado que é seu quarto,seu retiro?Sabe quando você não sabe o que fazer com tanta coisa aprisionada em si,quando tudo o que você queria era gritar e liberar todas essas coisas sem sentido que te fazem triste o tempo todo?Sabe quando você queria ouvir aquele silêncio que significa tanto pra você,ainda mais vindo daquela pessoa que você ama?Quando as coisas bonitas passaram a ser feias pois significam um esforço terrível vê-las belas como antes?É eu sei. — Marília Cadima